Lembranças de coxia.
Daniele Monteiro
Jornalista e ex-aluna da EDISCA
Estou aqui radiante com as palavras direcionadas ao meu querido amigo Anderson Carvalho. Graças a Deus – e à EDISCA – eu tive a oportunidade de conviver e de crescer ao lado desse artista maravilhoso. E tenho muito orgulho disso. Convivi com o Anderson muito mais no teatro do que na dança. Mas ainda assim pude testemunhar o bailarino incrível que ele é. No teatro, passamos por muita coisa e, refletindo um pouco sobre o texto, vi como a pressão por ser negro nesse país pode influenciar sim os nossos destinos.
Acredito que o preconceito racial é um problema seriíssimo, mas acho ainda mais sério quando essa discriminação não vem do outro, e sim de você mesmo. E isso, claro, só é reflexo do que se passa dentro do seio familiar. Pois bem, no teatro da Edisca também conheci outra criatura tão original e espetacular quanto o Anderson, a Raquel. E, se assim posso dizer, longe de falsos termos politicamente corretos, ainda mais negra do que o Anderson. Entre nós, a Raquel era aceita, aplaudida e muito bem quista. Assim como o Anderson, ela também tinha um sorriso lindo, escancarado e contagiante. Lembro-me de um dia, detrás da coxia, após o almoço, ver uma Raquel que eu nunca tinha visto. Triste e pra baixo. Perguntei o que havia e aos poucos ela me contou que estava apaixonada por um menino lindo, um “negão” como disse ela e, pra mim, aquela tristeza toda não fazia sentido. Porque se apaixonar sempre fez bem, a quem quer que fosse. Enfim, a Raquel me contara que na noite anterior apresentou o tal garoto aos pais e à avó, que morava com ela. Quando ele foi embora, a avó a puxou de lado e disse: – Filha, ele parece um bom moço. Mas você não poderia escolher um moço um pouquinho mais claro, pra melhorar a raça da gente aqui em casa, não?
Nunca vou me esquecer dessa fala e o quão cruel ela é. Aquilo doeu em mim, mesmo não sendo (oficialmente) negra. A sorte é que a Raquel era uma Edisquiana. Contava com o apoio psicológico que a ONG oferece e todo o resto que a arte proporciona. Ainda convivendo com o preconceito dentro de casa ela se orgulhava de ser negra. E eu, de ser amiga de uma negra, que tem orgulho da própria raça. Anos depois eu me pergunto: será que a avó dela foi tão algoz assim? Ou será ela também uma vítima? Vítima de tempos em que ser negro representava dificuldades ainda maiores do que as atuais? Vítima de um país que demorou (mas começou) a reconhecer a dívida que tinha com esse povo? Uma vítima que talvez só quisesse que a neta não sofresse tanto quanto ela. A resposta certa, eu nunca vou saber. O que eu sei é que a EDISCA fez a diferença na vida do Anderson, na vida da Raquel, na minha e na de tantos outros alunos que passaram por lá. E é por tudo isso que eu acredito que essa ONG deva funcionar por muitos e muitos anos. Porque, afinal, é disso que a gente precisa hoje em dia: de gente que faz a diferença.
jose arimateia barbosa
ola gostei muito desta escola gostaria de realizar um sonho de minha filha; como faço para colocala nesta escola pois nao posso pagar uma escola particular porque ganho pouco.ficarei muito grato;pois aguardo algum sinal.